O que leva a pessoa a ter urticária crônica?

urticária crônica

Qual é a causa da urticária crônica? Tem como curar? Pode ser emocional? Se a sua urticária vai e volta, confira as informações deste artigo.

Conteúdo escrito pela Dra. Ana Luiza Villarinho, especialista em alergias na pele e pesquisadora da Fiocruz.

O que causa urticária crônica?

A urticária crônica pode ocorrer por alguns mecanismos autoimunes e outros ainda desconhecidos. No primeiro caso, o indivíduo desenvolve autoanticorpos (doença autoimune) que ativam os mastócitos e basófilos, células essenciais para a ocorrência da urticária, que levam a liberação de histamina. 

No entanto, em boa parte dos casos, não é possível determinar a causa da urticária crônica e ela acaba recebendo a denominação de idiopática ou espontânea. Dificilmente uma alergia alimentar é a causa da urticária crônica, de forma que dietas restritivas não são recomendadas geralmente a estes pacientes. 

urticária

Quais alimentos pioram a urticária?

A urticária crônica geralmente não é causada por alergia alimentar, porém, em alguns pacientes, pseudoalérgenos e alimentos ricos em histamina podem agravar os sintomas.

São exemplos de pseudoalérgenos corantes, conservantes, salicilatos e compostos aromáticos presentes tantos em alimentos naturais ( Ex: Tomate, frutas, alho, etc.) com em produtos industrializados (adoçantes artificiais e carnes processadas). Estas substâncias por mecanismos desconhecidos, que não são uma alergia verdadeira, podem levar ao aumento de liberação da histamina. 

Os alimentos ricos em histamina mais conhecidos são vinho tinto, queijo curado, carnes embutidas (Ex: salame, copa, presunto), frutas cítricas, repolho, amendoim e o peixe cavala. 

A reação a estes pseudoalérgenos e alimentos ricos em  histamina dificilmente podem ser comprovados por exames laboratoriais ou teste de provocação oral. Outro ponto relevante é que ao contrário de um alérgeno verdadeiro, não necessariamente ocorre a piora da urticária toda vez que estes produtos são consumidos. 

Dessa forma, a dieta restritiva não é recomendada para todos os pacientes com urticária crônica. Em casos selecionados, refratários ao tratamento, com uma história muito sugestiva, pode ser indicada a dieta. 

É normal ter urticária todos os dias?

Não! Quando a urticária ocorre todos os dias, ou mesmo em apenas alguns dias da semana, com aspecto de “vai e volta”, mas de forma persistente, por mais de seis (6) semanas, possivelmente está ocorrendo um quadro de urticária crônica. Se a duração da urticária for inferior a este período, ainda que não ocorram crises diárias, ela é classificada como aguda. 

Como saber se a urticária é emocional?

O estresse não é a causa isolada da urticária crônica, mas, sabe-se que ele pode piorar os sintomas, desencadeando crises, e influenciando a evolução da doença e a resposta ao tratamento. 

O controle dos quadros de ansiedade e estresse através de psicoterapia e uso de medicamentos, quando necessários, pode auxiliar no controle dos sintomas de urticária. O acompanhamento psicoterápico é essencial em alguns pacientes para o sucesso do tratamento. 

Por que a urticária piora à noite?

A urticária piora  à noite por alguns motivos. O mais conhecido tem relação com a  histamina, uma substância produzida pelas células mastócitos e basófilos e com o cortisol, um tipo de corticoide produzido no corpo. Tanto a produção de cortisol, quanto a liberação de histamina, seguem o ritmo circadiano, um “relógio interno” do corpo que regula o funcionamento das células, o metabolismo, etc.

Assim, a produção de cortisol naturalmente diminui à noite e volta a subir no início da manhã. Ocorre, que um dos papéis do cortisol é inibir a liberação da histamina pelos mastócitos e basófilos, e quando os níveis desse hormônio caem no sangue no início da noite, naturalmente, há um aumento da liberação da histamina pelas células citadas e consequentemente a piora da urticária e da coceira. 

Então, a piora da urticária à noite que muitos atribuem ao “resfriamento do corpo” ao final de um dia de trabalho, na verdade está relacionada ao nosso relógio interno e ao metabolismo do corpo. 

urticária piora à noite
Arquivo pessoal Dra. Ana Luiza Villarinho

Qual exame detecta urticária crônica?

A urticária crônica é diagnosticada basicamente com a história contada pelo paciente, que informa detalhes como o tempo de início dos sintomas, as características das urticas e o padrão de evolução, dentre outras informações.

Poucos exames de sangue  são necessários e geralmente são utilizados para afastar alguma doença associada ou fazer diagnóstico diferencial a partir das informações dadas pelo paciente. 

A pesquisa de alergias alimentares, tanto através de exames de sangue, quanto pelo teste de puntura no braço,  não é necessária na maior parte dos casos porque este tipo de urticária não é causada por alergia a alimentos.

Qual o melhor remédio para urticária crônica?

O tratamento da urticária crônica inicialmente é feito com anti-histamínicos mais novos (Ex: bilastina, fexofenadina, cetirizina, etc.), que não causam tantos efeitos colaterais, como a sonolência e alteração de memória, relacionados aos medicamentos mais antigos (Ex: hixizine e dexclorfeniramina). A dose a ser tomada será indicada pelo profissional de saúde. 

O uso de corticoides como prednisona está indicado apenas nos casos graves, por um período restrito. Devido aos múltiplos efeitos colaterais como hipertensão, diabetes, aumento de peso, entre outros, este medicamento não deve ser usado por um período prolongado e a dose deve ser determinada por um profissional de saúde. Se um paciente precisa regularmente de corticoide para o alívio dos sintomas, a urticária crônica não está controlada e é necessário buscar novos tratamentos. 

Felizmente, para os casos refratários aos anti-histamínicos existe a possibilidade de uso do imunobiológico Omalizumabe (Xolair), com uma boa resposta na maior parte dos pacientes. Outro imunobiológico mais recentemente indicado para urticária crônica no Brasil foi o dupilumabe (Dupixent).

A imunoterapia, também chamada por muitos de “vacina”, com alimentos ou fungos e ácaros, não é um tratamento reconhecido no momento para a urticária crônica. 

Urticária é contagiosa?

Não! A urticária não é uma doença infecciosa, portanto não pode ser transmitida pelo contato pele a pele. O que ocorre é que muitos indivíduos que têm urticária, especialmente a forma crônica, evitam muitas vezes o convívio social por medo do preconceito relacionado ao desconhecimento da doença. Estes pacientes costumam referir piora dos sintomas ao se expor ao sol e com o suor, o que acaba desmotivando as saídas de casa e piorando a crença de que se trata de doença infecciosa.

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