Existe alergia ao sol?

É possível ter alergia ao sol? O que fazer? Tem tratamento caseiro? Se a sua pele coça quando você toma sol, leia.

Artigo escrito pela Dra. Ana Luiza Villarinho, especialista em alergias na pele e pesquisadora da Fiocruz.

É possível ter alergia ao sol e ao calor?

Sim! O sol emite radiações como os raios UVA, UVB e luz visível que podem desencadear reações alérgicas diversas na pele de pessoas predispostas. A radiação do tipo UVA é a mais implicada nestes processos alérgicos.

A alergia ao sol pode se manifestar como diferentes doenças. Algumas pessoas denominam esse grupo de enfermidades como dermatite solar. 

Um exemplo comum é o fotoeczema de contato. Neste caso, a reação alérgica ocorre após a aplicação de uma substância química na superfície da pele que se modifica com a exposição ao sol, tornando-se um alérgeno. Ocorre frequentemente associada ao uso de alguns cosméticos. São exemplos de substâncias que causam reação fotoalérgica perfumes e  cosméticos com o conservante metilisotiazolinona (Kathon CG), além da planta Aroeira, erroneamente utilizada nas formas de sabonete e chás como calmante da pele. 

alergia ao sol

A radiação do sol pode provocar ainda a urticária solar. Trata-se de um tipo de urticária induzida que, após alguns minutos de exposição solar, apresenta placas urticadas pruriginosas.

Outras doenças cutâneas desencadeadas pela exposição à radiação solar são frequentemente confundidas com processos alérgicos. São exemplos dessa situação as fitofotodermatoses e reações fototóxicas a medicações. 

Na fitofotodermatose, a radiação solar interage com substâncias chamadas furocumarínicos, presentes em algumas frutas, legumes e plantas aplicadas de modo inadvertido na pele. Um exemplo clássico é a reação cutânea, que muitas vezes lembra queimadura, desencadeada após o contato com o suco de limão e exposição ao sol.

Já nas reações fototóxicas a medicações, drogas como antiinflamatórios, dipirona e diuréticos, entre muitas outras, após ingeridas, podem se depositar na pele e reagirem com a radiação solar, causando lesões tipo queimadura solar. 

A exposição à radiação solar também é capaz de agravar diversas doenças inflamatórias cutâneas como lupus eritematoso e rosácea. 

O calor, desencadeado pela exposição excessiva ao sol ou a outras fontes de energia, também pode causar uma alergia cutânea chamada de urticária colinérgica. Nesta situação, o que realmente desencadeia o processo alérgico é o aparecimento de suor. Assim, outras causas de sudorese, que não o calor, como o estresse extremo ou a ingestão de alimentos condimentados, também podem desencadear o processo. 

Pessoas portadoras de atopia, condição em que há alergia a poeira, ácaros e fungos do ambiente, costumam apresentar intolerância ao suor. Assim, quando expostas ao calor, até mesmo do sol, podem apresentar intensa coceira na pele, relatando frequentemente a sensação de “pinicação”. 

Qual exame detecta a alergia ao sol?

Na maior parte das vezes, o diagnóstico de alergia ao sol é feito pelas informações dadas pelo paciente, associadas ao exame clínico. 

Em certos tipos de dermatite solar, pode ser necessária a realização de fototestes com lâmpadas especiais de radiação ultravioleta. 

Quais são os sintomas de alergia ao sol ?

Os sintomas de alergia ao sol dependem do tipo de doença. Um ponto comum entre elas é o fato de a reação se iniciar ou até ficar restrita aos locais que não são cobertos pelas roupas, as chamadas regiões fotoexpostas. Em um indivíduo usando blusa de manga curta e calça comprida, as áreas fotoexpostas serão o rosto, orelhas, pescoço, área do decote no colo, antebraços, dorso das mãos e dos pés. 

 A seguir, as manifestações das dermatites solares mais comuns: 

  • Fotoeczema de contato – Placas vermelhas, com coceira, descamação, inchaço e vesículas aparecem nas áreas fotoexpostas, onde houve a aplicação do produto.  Mais tardiamente, as placas podem acometer também áreas cobertas. 
  • Urticária solar – Placas de urticas vermelhas com coceira aparecem alguns minutos logo após a exposição solar. Geralmente surgem nas áreas expostas, mas locais cobertos por tecidos muito finos também podem apresentar os sintomas. Angioedema pode aparecer nas pálpebras, lábios, língua, orofaringe e etc. Sintomas como mal-estar, náuseas e até desmaios podem ocorrer, especialmente se o quadro for extenso.
  • Fitofotodermatose – Após o contato com algumas plantas, frutas e legumes e exposição solar, aparecem placas inicialmente vermelhas, que podem arder e evoluir até com o surgimento de bolhas. É comum essas placas terem um aspecto esquisito de respingo ou de algo que escorreu na pele. Frequentemente, após a resolução do quadro agudo, uma mancha escura aparece no local e pode persistir por alguns meses. 
  • Reação fototóxica a medicações – Aparecimento de vermelhidão, prurido  e ardência nas áreas fotoexpostas, muito semelhantes a queimaduras solares de primeiro grau. Tipicamente, a pele que habitualmente está coberta por roupas, tem o aspecto normal. 
  • Urticária colinérgica – Ao suar, aparecem pequenas placas vermelhas no tronco, especialmente próximo às axilas, associadas a coceira. O resfriamento do corpo com água ou ambiente com ar condicionado costuma aliviar os sintomas. 
  • Prurido atópico – Acomete pacientes com alergia respiratória a poeira, ácaros e pelos de animais. Ocorre uma intolerância ao suor. Assim , qualquer estímulo que provoque sudorese, pode levar a coceira extrema disseminada. É comum também ocorrer coceira após o banho, ao se enxugar. 
Alergia ao sol sintomas

O que fazer quando se tem alergia ao sol?

Quem tem algum tipo de alergia desencadeada pelo sol, deve evitar a exposição da pele ao ar livre. Uma vez que a radiação UVA, a mais implicada neste tipo de processo alérgico, incide na superfície terrestre durante o dia todo, não há horário seguro para a exposição ao sol.

O uso de filtro solar, com PPD alto e FPS maior do que 30 é aconselhável. Deve-se ter atenção à quantidade do produto aplicado na pele, para que não seja insuficiente. O ideal é o uso de uma camada generosa do filtro em todas as áreas do corpo que não forem cobertas pela roupa.

O uso concomitante de chapéus e roupas com tecidos que contenham FPS pode ajudar. Na verdade, nenhum método de fotoproteção isolado é 100% eficaz. O correto é a associação de técnicas.

Caso a pessoa trabalhe ao ar livre, como guardas de trânsito e salva-vidas, a mudança de profissão pode ser necessária. 

Como tratar a alergia ao sol? Ela tem cura?

O tratamento dependerá do tipo da dermatite induzida pelo sol. Um ponto comum a todas elas é a necessidade de adoção de medidas de proteção solar. 

Outra informação relevante é evitar o uso de remédios caseiros, pois a maioria deles pode piorar o processo ao causar irritações. Produtos como pasta de dente e borra de café jamais devem ser aplicados nas lesões que estão ardendo ou coçando. Uma alternativa temporária, até que se busque atendimento médico, é a aplicação de compressas de chá de camomila gelado que pode ter efeito calmante nas lesões. 

Quando há urticárias e coceira associadas, geralmente utilizam-se anti-histamínicos. Nos casos com eczema, corticoides tópicos e orais podem ser indicados de acordo com a gravidade.

Se a alergia estiver sendo causada por algum fator externo, como um cosmético aplicado à pele ou medicação, a suspensão destes pode levar à cura da doença. Porém, em alguns casos, mesmo com a eliminação da substância suspeita, o paciente pode manter a reação de fotossensibilidade. 

Quando se trata das urticárias solar e colinérgica, é preciso aguardar a remissão da doença, não sendo possível estabelecer a duração do processo. Nestes casos, o tratamento com controle dos sintomas é mantido até que a remissão ocorra.

Em algumas dessas dermatites solares é possível tentar a dessensibilização através da fototerapia. 

A alergia solar está associada à falta de vitamina D?

À princípio, não. Porém, como o tratamento dessas alergias solares envolve evitar a exposição solar, a produção de vitamina D do corpo pode ficar prejudicada. 

Neste caso, antes de se iniciar o tratamento e durante o processo, é aconselhável realizar dosagens regulares da vitamina para avaliar a necessidade de reposição. 

× Agendar consulta